
Em um mato sem cachorro
Publicação em 22.04.22
Juíza nova na idade e na carreira. Dava os seus primeiros passos, substituindo em uma das varas do trabalho de Porto Alegre.
Em uma manhã antes de ir ao foro, como requerem a beleza e a vaidade, foi a uma estética existente nas proximidades, para os cuidados com cabelos e unhas. No local apenas mulheres que conversavam animadamente sobre o cotidiano.
Repentinamente ingressa pela porta do estabelecimento um homem que carregava em uma das mãos uma pistola. Ordenou que todas ficassem de joelhos e, aproveitando-se do pânico, recolheu os pertences que estavam nas bolsas: celulares, carteiras, talões de cheques, cartões de crédito, assim como as joias que ostentavam.
Após a saída do elemento, por sorte sem nenhuma violência física, compareceu a polícia para as providências necessárias.
Passado o susto, retomando a vida, a jovem magistrada compareceu no dia seguinte para cumprir a pauta das audiências.
Realizado o pregão ingressa na sala o mesmo sujeito que havia praticado o roubo. Ele fixa o olhar na juíza, sem desviar um segundo a atenção, revelando reconhecê-la.
À época no foro trabalhista não havia sequer detectores de metais, e a segurança não portava arma de fogo.
O que fazer? O saguão estava lotado por partes e advogados.
A juíza, com sabedoria e calma, conduziu a audiência até o final e, certamente, evitou um tiroteio que atingiria muitos.
A outra alternativa seria chamar a polícia que ingressaria no prédio armada.
Graças ao equilíbrio da então jovem magistrada, não conto hoje uma triste história repleta de vítimas.