
Uma comarca só de advogados
Publicação em 03.05.22Charge de GERSON KAUER

Na cafeteria de uma grande cidade brasileira estão um advogado, um juiz e um promotor. Eles conversam sobre a rotina forense, o congestionamento de cartórios, a precariedade de funcionamento dos JECs, as dificuldades para operar o processo eletrônico, a justiça e a injustiça dos penduricalhos, a consolidação da estagiariocracia, etc.
Aborrecido, o promotor chuta algo que encontra sob a mesa. O magistrado faz que não vê. O advogado se abaixa e pega - era uma lâmpada mágica. Esfrega-a e, como de praxe, sai um gênio. Este, agradecido por ter sido libertado, diz que realizará um pedido de cada um deles. Era só pedir!
O juiz impõe que, por ser magistrado, tem preferência na escolha. Analisa a sofrida carreira dele e dos colegas.
- Eu exijo um resort paradisíaco, melhor que os da Bahia, para formar uma república só de magistrados, sem problemas e sem processos. Nosso compromisso será apenas com a hermenêutica.
O gênio imediatamente realiza o pedido, transferindo o juiz para lá, com direito a patrocínio chancelado pela federação dos bancos.
Depois, o promotor - que havia gostado da ideia do magistrado - pede:
- Eu quero uma ilha que lembre o Éden, para formar uma república só de promotores, mas distante dos juízes e sem advogados.
O gênio concede o pedido e situa o promotor num dos locais insulares mais lindos do mundo.
Virando-se para o advogado, o gênio pergunta:
- E o senhor, que ficou por último, o que pede?
Ao que o advogado responde:
- Oh, gênio, já que me fizeste dois favores tão grandes, afastando duas classes privilegiadas, basta-me oferecer um chimarrão...e estarei agradecido.
* * * * *
Em tempo - O texto foi sintetizado pelo Espaço Vital a partir de uma defesa prévia de advogado, numa das Seccionais da OAB, ante procedimento disciplinar instaurado a partir de representação conjunta de um juiz e de um promotor. O expediente foi arquivado na Ordem.