
Consulta ginecológica à moda romana
Publicação em 10.05.22Charge de GERSON KAUER

Ela era uma mulher interessante, sem exuberâncias, não usava vestidos de grife, mas trajava bem. Solteira, atuante nos meios financeiros, estava sempre perfumada, usava saltos altos, cabelos bem penteados.
Um dia, ela foi ao consultório de um ginecologista que só atendia “particular”. O recôndito era decorado com objetos típicos das antigas milícias romanas. A primeira consulta foi normal; o médico pediu exames de rotina “necessários para quem, breve, vai chegar aos 40”. Como a paciente demonstrasse interesse sobre as antigas classes sociais romanas, o médico explicou que as legiões se originaram quando Roma era ainda uma cidade modesta, que enfrentava constantes conflitos com povos vizinhos. E por aí se foi.
Na segunda consulta, o médico carregou no sotaque para elogiar a paciente: “Usted es muy bonita y sexy. Me imagino que Roma no tenía mujeres hermosas como usted”.
E logo ele estendeu as duas mãos por cima da mesa, puxando a cliente pelos braços . E – como revela o processo – “aproveitando-se do estado de surpresa e choque, agarrou-a, beijando o peito, por cima da blusa”.
A mulher líder bateu em retirada e foi direto à polícia. O agente policial deu a dica:
- Parece-me ser um médico abusado. Já temos registro de um caso semelhante.
Sem tardança, o caso foi a juízo. Citado, o ginecologista sustentou que “a autora apresentava quadro depressivo e todos os procedimentos e exames foram acompanhados pela médica assistente, inexistindo contato físico com a paciente além do necessário”.Colhida a prova, o juiz decidiu por “verossimilhança e com base em provas indiretas e/ou indiciárias, mormente tendo em conta que referidos atos são normalmente cometidos às ocultas, sem a presença de testemunhas”.
Julgando a apelação do ginecologista, a câmara cível do TJ confirmou a condenação, “sobretudo ante o respaldo em elementos indiciários e em prova testemunhal harmoniosa”.
Com o trânsito em julgado, o médico ficou sabendo o valor da conta judicial do galanteio: R$ 48 mil. No abril recente, ele pagou a conta da condenação.
O depósito judicial não foi feito em denários – que eram as moedas de prata de maior valor no Império Romano, por volta do ano 200 antes de Cristo.
O pagamento foi em reais, em época de inflação de quase 10 por cento ao ano.